Pequenos prazeres, ou remédio para grandes males.

Não gosto do Inverno!!

Não gosto de dias sombrios, de céus carregados, da desolação das árvores despidas, de chuva, de frio, do ar triste e cansado que envolve tudo.

Não gosto!!

Faz-me falta o sol, a cor, os cheiros a energia e o ar festivo de um dia de verão.

Chego a casa e enrosco-me no sofá, tenho que fazer mas não me apetece, olho pela janela e vislumbro um céu cor de chumbo, pejado de nuvens negras.

No meio de um silêncio mal disposto, ouço a voz da minha casa.

- Então Isabel, que é feito do teu entusiasmo, da tua alegria?

- Foi-se com o último raio de sol digo eu.

- E então vais ficar aí parada até que ele volte?

- Vou e depois?

- Bem tu lá sabes, mas cá para mim isso é preguiça!

- E agora? Não posso é?

- Podes, podes não precisas é de estar com essa cara amarrada!

- Sabes, já me habituei ao teu sorriso, ao teu assobio, à tua genica, hoje pareces mesmo o Inverno!

- Ok, ganhaste! não precisas de me chamar nomes!

Levanto-me, enfio mais uns toros na lareira, de passagem ligo a musica, acendo as velas com aroma a limão e vou para a cozinha.

Em dois tempos ponho a sopa a fazer, creme de alho francês (antes que se estraguem), preparo uma quiche com os restos do frango, ligo o forno e já agora porque não?

Descaroço duas maçãs, encho-as com açúcar amarelo, cubro com uma pitada de manteiga, perfumo com canela e rego com vinho do porto.

Venho para a sala e lembro-me da Mel.

Rio-me sozinha e meto mãos à obra.

Vou buscar a toalha que comprei para o Natal, tiro uma rosa da jarra e ponho-a em cima do guardanapo. Não tenho castiçais mas não importa, coloco uma vela vermelha num pires e vou buscar os meus melhores pratos.

Dou comigo a cantarolar e já não paro quieta.

Dou uma mexedela na sopa, tiro a quiche e inalo fundo aquele cheirinho a maça assada hum.....delícia, o aroma espalha-se pela casa., uma mistura doce de maça, canela e açúcar queimado.

De repente está tudo bem outra vez!!

Desapareceu o frio, já não há nuvens escuras, o céu está azul  e eu sinto-me viva e cheia de fome!

Instalo-me de frente para a minha janela e à luz da vela, começo a jantar.

São servidos?

publicado por Subjectividades às 09:09