SILHUETA DESVENTURADA

 

Sou a sombra de um corpo que não existe

Sou o choro desesperado

Sou o eco de um grito articulado

Numa garganta sem forças

Sou um ponto no infinito

Silhueta da desventura

 

Perdida neste espaço

Vagueando...finjo existir

Insistem chamar-me criança

E eu insisto ser

A esperança do incerto

 

O meu tantã é de outros tempos

A melodia que oiço

É o crepitar de chamas

Confundindo-se com o roncar da fome

E o chão onde piso

É uma ilha de fogo

 

A minha nuvem é a fumaça

Da bala disparada

Gotas salgadas orvalham

O meu pequeno rosto

Enquanto choro

Na esperança do incerto

 

Maria Odete da Costa Semedo - Poetisa e Professora de Língua Portuguesa da Guiné- Bissau.

 

 

 

Foi com profundo horror que hoje li,  e passo a citar;

 

As histórias vêm sem nomes e sem datas. No Vale da Amoreira, na Moita - onde vivem mais de 12 mil pessoas, 30% delas originárias da Guiné -, há crianças vítimas de um ritual que implica o corte do clítoris. "Identificamos na nossa comunidade pessoas que levaram a cabo a mutilação genital feminina e outras que pretendem fazê-lo. Aqui há famílias em que todas as mulheres foram excisadas. Há uns meses, tivemos conhecimento de que três meninas da mesma família foram mutiladas aqui no bairro e sabemos de outras que vão à Guiné para cumprir esse ritual", denunciou à Lusa Susana Piegas, da Associação de Imigrantes Guineenses e Amigos do Sul do Tejo (AIGAST), que trabalha há dez anos junto daquela população.

 
Em Portugal, o caminho "a trilhar no combate à mutilação genital feminina é manifestamente enorme", admite Ana Margarida Ferreira, da Amnistia Internacional. "Continuamos sem números. As associações que trabalham junto das comunidades imigrantes têm poucos recursos e não estão coordenadas entre si."

Em pleno século vinte e um, a mutilação genital feminina, é ainda um assunto tabu, uma realidade que a maior parte de nós não conhece. As  sociedades e as culturas, são diferentes umas das outras contudo, tal como é reconhecido o direito à diferença, também terá que haver um ponto comum a todas elas.

O direito à integridade física e mental e a liberdade de escolher.

 

Foi com profundo pesar que tomei conhecimento que tal realidade existe no meu País e que devido aos famosos "poucos recursos e falta de coordenação" tão portuguesas, o assunto acabará eventualmente por ser pouco abordado e ainda menos combatido!

 

Não sou nem nunca fui a favor das proibições, sempre respeitei os usos e costumes de outras culturas mas no que se refere à Mutilação Genital Feminina não concebo qualquer tipo de respeito, qualquer tipo de lógica,  é sim um crime Hediondo que envergonha qualquer população qualquer País,  qualquer ser humano que fique impávido e sereno quando toma conhecimento de tal acto!

 

publicado por Subjectividades às 13:15