Sózinha na noite, olho o firmamento e no silêncio, naquele silêncio em que habitam os demónios, solto a minha alma menina deixando-a vagar por momentos, livre deste corpo cansado onde vive aprisionada.
No escuro as recordações vêem como vagas, sinto o agitar das lembranças rolar no meu ventre, criando uma maré que me inunda as veias e envia pequenas ondas frias lamber-me as fontes.
Manta de retalhos de uma vida.
Fios tecidos de modo a formarem um padrão bonito, um motivo memorável, outros desbotados, sem brilho sem lantejoulas, todos eles entrelaçados num enredo ainda por terminar.
Que mais fios me trará o destino. Que laços entrelaços ou nós ainda me esperam.
Já sorri à felicidade, já abracei a dor, já ri chorei, já dei e já perdi...
As lágrimas correm soltas!
Olho então a minha alma menina, a sua luz abraça-me, possui-me, liberta-me do medo do conhecimento consciente e diz-me que o amanhã se chama esperança.
Olho o firmamento e finalmente descanso.