Lar é onde se acende o lume e se partilha mesa e onde se dorme à noite o sono da infância. Lar é onde se encontra a luz acesa quando se chega tarde. Lar é onde os pequenos ruídos nos confortam: um estalar de madeiras, um ranger dos degraus, um sussurrar de cortinas. Lar é onde não se discute a posição dos quadros, como se eles ali estivessem desde o princípio dos tempos. Lar é onde a ponta desfiada do tapete, a mancha de humidade no tecto, o pequeno defeito no caixilho, são imutáveis como uma assinatura desconhecida. Lar é onde os objectos têm vida própria e as paredes nos contam histórias. Lar é onde cheira a bolos, a canela, a caramelo.Lar é onde nos amam.

-Acabei de ler o sétimo véu, e não é porque a Srª morreu que eu vou aqui  dizer-vos como ela foi grande, versátil, criativa e um pouco injustiçada pela crítica portuguesa aliás como é apanágio, costume, preconceito, inveja, conservadorismo, ou elitismo dessa classe.

Já aqui vos falei, da voz inconfundível da Rosa Lobato de Faria, de como ás vezes, as primeiras impressões são redutoras. Quando a segui na Vila Faia, estava longe de sonhar o que encerrava toda aquela pose de nobreza arruinada, aquele ar de tia de Cascais.

Mais tarde descobri os livros dela e apaixonei-me por toda aquela sensibilidade elegante, aquele olhar realista e poético. Deste livro que li, ficaram-me várias coisas mas sobretudo  aquele saber intemporal que todas nós mulheres, mães, temos dentro de nós .

«...porque uma família não são só os laços de sangue e os afectos, mas as memórias, que umas vezes explicam, outras inquietam, outras magoam mas sem as quais andaríamos à deriva sem cais onde amarrar o nosso perdido bote.»

«...Porque não vale a pena cumprir feitos heróicos, dar a volta ao mundo num bote, ganhar o prémio Nobel, descobrir a pólvora, se não tivermos um lugar para onde voltar, onde alguém nos espera com uma sopa e um sorriso.

 É sempre com muito orgulho  que eu constato que há excelentes autores em Portugal, que não somos só, aquele povo pessimista e cinzentão onde o passatempo nacional é o futebol e o depreciar tudo o que é nosso.

Rosa Lobato de Faria viveu, sentiu e escreveu em Português e a obra dela é para ler , ler, e reler.

 

publicado por Subjectividades às 10:00