A Páscoa como todos nós sabemos é uma festa Cristã.

Eu moro numa aldeia do norte de Portugal onde a tradição ainda é o que era. No dia de Páscoa, acordamos ao som do sino da Igreja e dos foguetes. Ainda se faz a visita Pascal, as casas enfeitam-se com alecrim, toda a gente tem na mesa cabrito e pão de ló, ainda se dá o folar aos afilhados, é um dia de festa mesmo, que termina com o recolher do Senhor ao som da Banda de música seguido de um grande arraial. 

É uma celebração digna de se ver, já o espírito dos representantes ditos de Cristo, esse aí é outra coisa. Para mim este é um dia em que mais do que lembrar-me de Cristo eu recordo os meus Padrinhos que infelizmente já não estão entre nós mas dos quais, eu guardo as melhores recordações.

E isto tudo é a propósito do meu afilhado mais novo que tem oito anos. Só é meu afilhado porque eu omiti ao Sr. padre, a minha condição de divorciada. Na altura do batizado do puto, o meu divórcio era recente, ainda não era do domínio público e o Sr. padre era recém chegado à Paroquia. Limitou-se pois a conferir que eu era batizada que tinha os pergaminhos todos (comunhões, crismã etc) e eu lá consegui ser a feliz Madrinha. Não se preocupou em explicar o sentido e a responsabilidade que acarreta ser madrinha de alguém, não, só interessava saber se eu frequentava a Igreja. Hoje em dia eu já não poderia ser Madrinha porque as divorciadas aos olhos da Igreja não são pessoas idóneas, nem bem vindas são. O mais engraçado disto tudo é que mesmo hoje em dia o Sr. Padre sabendo que eu omiti deliberadamente o facto de ser divorciada, fazendo-me sentir que não sou bem vinda na casa de Deus aos Domingos, no dia de Páscoa leva o Senhor para dentro da minha.

Como eu já referi lá onde eu moro a tradição ainda é o que era e da mesma maneira que se dá Folar aos afilhados também se dá a congra ao Sr. padre e uma gratificação para os miúdos que andam com a campainha a anunciar o Senhor bem como dinheiro para o fogo e por aí fora! Será que é este o melhor caminho para a Igreja dos nossos dias? 

É certo que eu não gosto de mentir, ele não perguntou e eu omiti mas, divorciada ou não eu sei perfeitamente quais os deveres e responsabilidades inerentes ao facto de se ser Madrinha de alguém. Provávelmente não serei Madrinha de mais ninguém mas, não é isso que faz de mim mais ou menos mereçedora. O meu afilhado vive a doze Kilómetros de mim, anda já na escola e eu sinto-me perfeitamente vingada de cada vez que ouço o puto á sexta feira telefonar e dizer " Madrinha posso passar o fim de Semana na tua casa? Posso dormir contigo Madrinha?".

É, na minha aldeia a tradição ainda é o que era mas o espírito esse acho que não tem nada a ver com os ensinamentos de Cristo.

Desculpem lá o desabafo e, Boa Páscoa!

 

 

 

publicado por Subjectividades às 11:19