Ao ler este teu post pensei: não posso confundir o homem com o “escritor”. Mas de facto, não posso nem quero separar o homem do “escritor”.
Amiga!
Dedico-te este texto, pela amabilidade que me dedicas. É com a genuína humildade e simpatia que devemos coexistir.
Ando perdido. Não me encontro. Preciso da tua ajuda. Pediste-me para encontrar o João.
Sulquei estradas e campos verdejantes, na tentativa de encontrar o tal “fulaninho”, tal como me propuseste.
Encontrei-o. Andava vagueando só, meio perdido, numa ruela de Lisboa e sombria de casarios brancos encardidos pelo tempo.
-Uma amiga pediu-me para te dar um beijinho por cada estrela que encontrasse no céu.
- Obrigado João, mas que amiga?
- Aquela que gosta imenso de te ler…
- Mas, quem gosta de me ler? Eu nem escrever sei!
Baixou a cabeça, como sucumbido por uma recordação que lhe atulhou o cérebro.
Há quanto tempo ele ia resistindo aos estragos do tempo e ao desejo das mulheres? Não era novo, caminhava velozmente pelo tempo e pelo espaço. Passavam por sua lembrança numerosas fisionomias.
Algumas não se fixaram bem na memória e surgiam-lhe na recordação, como coisas vagas, sombras, pareciam espíritos. Lembrava-se às vezes de um gesto, às vezes de uma frase desta ou daquela, sem se lembrar dos seus traços.
Recordava-se por vezes da roupa, sem se recordar da pessoa.
Repentinamente abriu os olhos e sussurrou:
- Diz-lhe que me deste muitos beijinhos.
- Eu dou-lhe… não a ti.
- Pois eu sei que irás dar… malandro.
- Não fiques triste João.
- Não! Estou radiante, porque alguém que não conheço adora ler-me e sinto-a no coração como uma amiga que nunca vi.
Agradece igualmente o post que está um espanto. Como vês, eu não conseguiria melhor.
- Ok, João. Até sempre.
Para mim o gesto mais nobre do ser humano é o saber dizer adeus. E ele conseguiu.
Pesadamente continuou a sua caminhada, pelas ruas sombrias e que serpenteavam o asfalto.
Eu caminho, pesadamente, sobre cada trecho, sentindo o corpo cansado, a alma carrega-me. Procuro no escuro, a luz de um dia qualquer, procuro na noite, a lua que teima em adormecer. Longo é cada segundo que arrasta o tempo atrás de mim, como uma corrente que me prende, sangrando-me o corpo, dilacerando-me o espírito como um cilício.
Entrego a esperança carregada entre mão, ao divino, deixando o futuro chegar sozinho, deixando a alma esperar, na beira do caminho, que a venham buscar.
Eu voltei para casa e na tranquilidade do meu sofá preferido, escrevi…
Um beijo
João
Obrigado João!
O que mais ressaltou hoje ao meu estado de espírito foi a frase em que dizes " O gesto mais nobre do ser humano é saber dizer adeus " .
Eu não sou nobre não consigo dizer adeus, não quero, dói-me tanto, não posso não vou....Meu Deus ainda tenho tanto caminho a percorrer....
Um abraço
Sabes uma coisa, o mais engraçado disto tudo é que eu tenho fobia de me expor, tenho uma dificuldade enorme de me mostrar (não confundas com o deixar de dizer o que tenho a dizer) e aqui ao abrigo do anonimato as coisas fluem.
Acreditas que não faço rascunhos, é direitinho para o ecrán, é uma necessidade tão grande, uma comichão na ponta dos dedos...
Não, não foste tu o culpado do que eu vivo hoje no meu espírito é a necessidade grande que eu tenho de entender, de saber de chegar lá...não sei se vou conseguir entender um dia mas até lá vivam os amigos!
Um abraço
O facto de não ser culpado, não me inibe de utilizar os meios que me forem possíveis, compreender tal vontade de entender e de chegar!
De facto não tenho forma de saber o que pretendes compreender ou atingir, mas se puder colocar-te num lugar mais “alto” de modo a facilitar essa tua fobia, podes contar comigo.
JC