Tentando desenganar o meu castigo

Espreito a tua janela fechada,

É o velho dom da esperança.

 

Absorvo engasgada aquele instante,

com a impressão que tudo se prolonga,

para lá da superfície do ar.

 

E naquele pulsar, louco, insano

que bombeia o meu sangue,

sinto as íris como duas luas golpeadas pelas nuvens.

 

Ali, lá, naquela janela, tu...

o meu sonho interrompido.

A transformação começa em mim,

Sou novamente a rapariga vestida de borboletas.

 

Palavra por palavra te bebo...

Palavra por palavra te repito...

Palavra por palavra te soletro...

Tu, o meu perigo da sorte,

Ali e no entanto tão longínquo !

 

E o relógio vai rodopiando, rodopiando

 

Faço dos olhos cordas e abraço-me,

prendo-me, faço-me prisioneira daquela janela.

Vejo um caminho de prata

Vou...

Porque hei-de morrer se não matei?

 

Num lampejo de lucidez,

permaneço do lado de cá

Onde o silêncio dói mais.

 

É penoso trilhar este caminho.

E, num banimento sombrio sussurro

« Volta para o lugar de onde vieste!»

 

A sorrir uma lágrima esquiva-se

pelo meu rosto,

de rapariga despida de borboletas.

 

publicado por Subjectividades às 09:02