Sinto a sua falta sem saber onde.
Tenho saudades de um riso que jamais vi.
Penso em você sem saber quando.
escrevo-lhe sem saber quem.
Sim, meu amigo
Eu ainda continuo fumando e andando descalça
Ainda bebo café e tenho insónias
Não me canso de ouvir música
E ainda dirijo como uma adolescente.
Moro na mesma casa
Mas não durmo na mesma cama
Colecciono livros, marcados com minhas anotações inúteis
A minha letra continua bonita.
Ainda devo ao banco e só uso cartão de crédito
Mas não talão de cheque
Nem bijutaria
Ou as mesmas roupas que costumava usar
Sempre esqueço que uso óculos
E ainda sonho em viajar
E descer o rio
E pular da ponte
E reclamar que a caminhada é muito longa
E a subida muito íngreme.
Tenho os mesmos pesadelos
E pressentimentos.
A mesma preguiça de acordar
A mesma luz no olhar
A mesma forma de amar
Tenho os mesmos sonhos
Outros tantos que não pude lhe contar
As mesmas cicatrizes e as suas em mim
E os mesmos cabelos brancos que lhe esperam.
Sim, meu amigo
Parece que o tempo correu mundo
E se esqueceu de mim
Perdida na esquina da vida
Ou sentada numa poltrona de cinema
Pensando que sou a única espectadora
de um filme que não verei a seu lado.
É verdade, meu amigo.
Ainda amo a mesma pessoa
Ou a sua mesma sombra
E sofro os mesmos males e
Choro pelos mesmos medos e sonhos
Que não pude tocar com a palma desta mão.
Sim...ainda tenho as mesmas mãos,
Com os mesmos traços, linhas e calos.
Nada mudou... a não ser chamar-lhe de
Meu desconhecido amigo.
PS- O texto não é meu, mas é tão bonito e diz-me tanto que não resisti a publicá-lo.