É bonito não é?!? - As vinhas, as uvas....
Mas a verdade é só uma, é um trabalho duro.
É muito giro, levantar cedo, vestir uma roupa velha (nunca se acerta) e ir para a vinha de balde e tesoura na mão, respirar aquele ar puro e estender o olhar por aquela paisagem única!
Para quem não faz habitualmente este tipo de trabalho até pode saber a aventura mas a realidade ultrapassa qualquer ficção.
Andar curvada, á procura dos cachos, muitas vezes estão tão emaranhados nos fios que antes que se cortem esmagam-se uns poucos de bagos que escorrem pelas mãos braços e afins, é o piso que é irregular, com covas à volta das cepas e quando se dá conta já se está de rabo no chão. São as folhas da videira, as vides que arranham, as ervas que provocam espirros valentes, as abelhas que zumbem por ali, é o Sol ou a chuva, é o levantar a cabeça e ver que nunca mais chegas ao fim do bardo, jeio ou rua como lhe queiram chamar!
Ás dez da manhã pausa para a bucha como se diz por aqui e, aí vale tudo até um bom caldo de cebola ou batatas com bacalhau, olhas para aquilo e de repente, dá-te umas saudades do teu cafezinho (bica). Continua-se até à uma da tarde e, quando te endireitas para ir almoçar já os teus músculos gemem por todo o lado.
A comida da vindima, isso sim é qualquer coisa de bom, de especial. É aquele tipo de comida que por mais vezes que faças durante o ano, nunca te sabe igual. O arroz do forno com o cabrito assado, o arroz de feijão malandro com borrego estufado, o caldo de feijão com couve cegada, calondro, ( comido com garfo) é a broa até o próprio bacalhau te sabe melhor!
Voltas para a vinha já revigorada mas em pouco tempo ficas cheia de ver uvas, brancas, tintas, de mesa.....
Ás cinco dá-se por terminado o dia e então, arrastas-te para tomar um banho mas até esse é especial. Lavas-te e passas-te por água, não sei quantas vezes até a mesma sair limpa!
A minha vindima dura sempre três quatro dias, é giro não digo que não, é pitoresco mas é duro!
Não deixa de ser uma festa porque quase sempre se juntam as famílias e os amigos e depois toda a gente está exactamente a fazer o mesmo. Cortar uvas!
É um tempo diferente onde se revive a tradição e a alegria das gentes simples, e embora hoje em dia as coisas já estejam diferentes e bem mais facilitadas, ao fim desses dias eu digo para mim mesma!
-Ufa! graças a Deus acabou, agora só para o ano!
Esta é sem dúvida uma terra de gente valente.
Tal como dizia Miguel Torga
« Trás-os-Montes terra de Deus e de Deuses»