Ando a lêr "A Velha Casa" de José Régio.
Mas, será assim só, tão simplista, o termo, a palavra ler?
Quero crer que não!
Além de o ler, ando a ler-me a mim, a sentir , a perguntar e a responder, a analisar , a dissecar, a tentar ver mais além.
Nem todos, mas muitos livros, têm esta função, provocam este efeito em mim.
Quase sem querer, provocam-me respostas espontâneas, a coisas que nem sequer tenho consciência que em mim estão latentes!
«...que bem pode o ser humano andar sofrendo, - roído, lá dentro, como por uma chaga oculta - e no entanto, rir-se, esquecer-se, divertir-se; apresentar em muitos momentos as mais convincentes aparências de frívolo, snob, indiferente, alegre, distraído! Como pode haver chegado a uma crua, mas subtil inteligência de várias coisas, e sobre essas mesmas fazer-se pateta.»
Há livros que nos fazem perder de nós, do nosso eu particular, outros contudo exacerbam esse eu, parece que falam para nós, que se centram em nós.
A velha casa é uma história de família, onde ressaltam a riqueza de pormenores significativos, de profundo conhecimento do ambiente provinciano, seus preconceitos, sua maledicência mesquinha, sua negação dos preceitos morais.
Uma obra inacabada acho, que muito provavelmente, será lida e interpretada de variadíssimas maneiras.
Nada tem, particularmente a ver comigo, no entanto, fez-me ler dentro de mim, a certeza de que hei-de recomeçar todas as vezes que sejam necessárias, que só a morte quebrará a minha força, que me erguerei sempre, que nunca me darei por vencida!
Interpretem como quiserem, tirem as ilações que entenderem, eu estou a gostar muito!
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.
José Régio